terça-feira, 16 de abril de 2013

Trabalhando pelo CoCô ideal, digo: por um mundo melhor

Como está o seu coco?! Sim, isso mesmo. Não, você não me ouviu mal. Eu sei que a gente, em geral, evita falar sobre essas coisas e usar essas palavras. Mas se estamos, de fato, tão empenhados na construção de uma mundo melhor, precisamos colocar os pingos nos “is”, as cartas na mesa e meter a mão na massa – ou seria, na merd*?! Vamos lá, não fuja do assunto. Como está o seu coco?

Quando meus amigos começaram a saber da minha viagem à Índia, o que não faltou foi a clássica piada-ameaça sobre os padrões indianos de higiene e sobre como eu, fatalmente, acabaria experienciando a ausência do papel higiênico. Como eu ainda estava do lado de lá, e de lá não se pode ter idéia do respectivo significado prático, eu deixei eles falarem, me fiz de descolada mas no fundo, nutria um medinho pelo desconhecido que não tardou a se revelar… e, com a bênção das Deidades Indianas, de uma forma muito melhor do que eu poderia imaginar.

Papel higiênico existe, sim, e banheiro, do jeito que a gente conhece também. É, claro, não é o “normal”. Mas, se você vem à Índia como turista, poucas vezes vai se deparar com “o buraco”. Papel higiênico, provavelmente você encontrará no quarto do seu hotel – no caso de você ter feito uma boa escolha – mas em geral, está fora de cogitação. Se você ainda não transcendeu a importância deste item, é melhor carregá-lo com você. Agora, que tal uma pausa básica e deixar que os fatos se encaixem e tudo faça sentido antes que a nossa oportunidade de aprendizado se perca descarga abaixo.

Dispensar o papel higiênico é encarar, sem medo, as consequências das suas escolhas. Ser responsável pelos nossos atos parece pré-requsito básico para a vida adulta e em sociedade. Não precisamos nem queimar muito os miolos para encotrar alguns exemplos – sim, a começar olhando para o nosso umbigo – quantos não são os atos que permanecem sem autores. Assim, como se alguns atos acontecessem sozinhos, como manifestção superior – ou inferior, na maioria das vezes, já que créditos pelos grandes atos todos querem receber. Bem, então, a responsabilidade total, completa e incondicional pelos atos – e toda a questão da escolha inerente a cada ato – não é tão básica e óbvia como pode parecer e deveria ser. Assumir consequências, principalmente as mais imprevistas e desagradáveis é um super desafio ao ego que busca sempre se comprazer através das nossas ações e que, às vezes, pode até acabar se rebelando feito um burro teimoso no caso de forçado a assumir as responsabilidades intrínsecas ao ato e/ou escolha. Afinal, toda ação tem uma reação e você – sim, eu, você; todos nós, somos responsáveis por elas.

A cadeia de ação e reação é infinita. A consequência do seu ato nunca é somente a que se revela direta e conectadamente. Também a ação do meu vizinho, do meu irmão e do Sr. João é parte manifesta de algum resultado de alguma ação, entre elas a minha e a sua. Aí é que o buraco fica mais embaixo e todo mundo tira o corpo fora e o mundo acaba indo parar do jeito que está. Porque afinal, se eu não paro para pensar, analisar, reavaliar – e quem sabe, numa hipótese linda, mudar – as minhas ações considerando o impacto que elas têm na vida do meu vizinho e do pobre do bichinho, então, acaba que tudo pode. Quando olhamos pro lado e vemos o outro agindo deliberadamente, e ainda nossa capacidade de reflexão só alcança a consequência imediata, então, “ah, qual é o problema?” – Afinal, o que é um peido pra quem está cagado? Bem… como esse texto gira em torno do coco mesmo, um peido para quem está cagado, no final das contas, pode fazer diferença, sim. Principalmente, se considerarmos quantos milhares de nós participam da experiência na Terra e compartilham de semelhantes processos de evolução – ou tentativas de – e merecem usufruir dos mesmos recursos naturais que eu e você apesar de todas as outras diferenças que nos tornam únicos.

desmatamento amazônia

Não usar papel higiênico engloba o entendimento de toda a cadeia da Responsabilidade e oferece uma leveza tripla para o praticante. Assim oh; quando você mete a mão na merda você:

1° – dispensa o papel higiênico = deixa de contribuir com a indústria do desmatamento + em lugares sem o devido tratamento de esgoto, você deixa de poluir uma importante parte do meio ambiente com o seu papel borrado, afinal, ele vai acabar no arroio ou rio mais próximo, reduzir a qualidade de vida dos serzinhos que vivem lá – quando não, acabando com esta - e roubar a pureza de um elemento básico da natureza que deveria ser inesgotável fonte de vida + todas as outras maiores e menores consequências naturais que a poluição causa;

2° – quando você enfrenta o seu coco sem medo (sim, coloando a mão na merda) você percebe que faz diferença, sim, o que você come e, aí, uma outra grande cadeia começa. Ainda sem a devida analogia com as demais grandes escolhas que regem as nossas vidas, dispensar o papel higiênico e assumir o resultado da escolha da sua última refeição é um lindo primeiro momento de reavaliação de valores. Sim. Porque, você pode muito bem não se importar em ter que “enfrentar” um coco desagradável (preciso descrever um coco desagradavel?) como resultado daquela refeição “deliciosa”, daquele pedaço de carne sangrento e gorduroso, daquela massa colenta, daquele snack cheio de corante e ingredientes manipulados com luvas e óculos protetores em laboratórios, ou, da simples gula. Tudo bem, não tem problema nenhum, mesmo, não vai ser nem pecado, se você assumir a consequência como manifestação indiscutível do quão importante a concessão dessa liberdade te faz que você não mede esforços para pagar o preço. Agora, sem fazer aquela cara de nojo, viu! Sabe né, até mesmo o cheiro pode te fazer desisitir de meter a mão na merda… bom, aí, de repente você passa a valorizar mais a sua tranquilidade na hora de encarar o resultado da sua escolha e aí… o único caminho é repensando as suas escolhas. Me diga, o que foi que você comeu? Depois que você dispensa o papel higiênico, você pensa duas vezes antes de comer. Se você quer um coco bonito e cheiroso, consistente mas não difícil, uma peça única – se é que você me entende – aí, bom mesmo é buscar na natureza os alimentos para colorir o nosso prato e não desagradar tanto o noso olfato e, agora também, o nosso tato, quando o resultado vier.

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Ainda usando o nosso coco como base para a analogia posterior. Depois que você passa desse primeiro estágio de análise e assume as devidas responsabilidades, chega a hora do comprometimento com algo maior – nesse caso, ainda o coco. Quando você descobre o que é necessário para ter o coco do jeitinho que você quer, você passa a diminuir o valor de tudo mais que impede este resultado e que, geralmente, está direta e fortemente ligado ao seu ego. Por exemplo, aquela carne, aquela massa, o doce, o salgadinho, o refrigerante e o energético que o seu ego insiste em “dizer” que você precisa, passam a ser questionados. (Este momento é Lindo! Um ego sendo enfraquecido por um… coco!!! Essa é mesmo muito boa!! Aí dá pra ter uma idéia do que nosso ego é feito e a que ele tende a nos tranformar no caso de uma não-supervisão mínima!) Passar a se alimentar pensando no coco também faz você comer mais devagar, mastigar bem, sentir o processo de digestão, incentivar o seu corpo a receber o alimento escolhido cuidadosamente. É a consicência da consequência desde o início da ação. É saber quanto de aproveitamento e de desnecessário contém cada bocada, quanto de energia e quanto de trabalho você está oferendo ao seu corpo, quanto é amor, quanto é doce ilusão.

Passando, então, para as analogias, poderíamos entender que o nosso coco está em todo lugar como resultado básico, natural e inevitável das nossas ações; das mais simples escolhas às mais importantes decisões. Nosso coco, com suas mais variadas características, vai influenciar, positiva ou negativamente, outras formas de vida. Se chegamos ao ponto de dispensar o papel higiênico, quantos outros recursos mais – totalmente dispensáveis, ou ao menos questionáveis – fazem parte de nossa “cesta básica” e só acabam por poluir a nossa vida, abarrotar a nossa dispensa, contaminar o nosso corpo, prejudicar o meio ambiente, sabotar a nossa felicidade fortalecendo o nosso ego?!

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A consciência do nosso coco pode ser um exercício de yoga considerando que ela nos faz estar presentes Aqui e Agora, agindo menos por impulso e com mais intenção. É estar completo no processo da existência, é estar em si pro que der e “vier”, literalmente. É o exercício do amor ao próximo, do desapêgo, da conexão com o Todo. Assim, o benefício é socio-ambiental, emocional e físico que se manifestam em um lindo círculo virtuoso: Você faz a sua parte pensando no meio ambiente → se sente mais leve, mais, naturalmente, alegre (menos culpas pra carregar=menos ansiedade pra lidar) → mais atos passam a ser gerados através da inspiração amorosa → comer passa a ser uma necessidade fisiológica e não uma descarga emocional→ se a necessidade é fisiológica seu foco está na qualidade e não na quantidade → comer menos e melhor contribui mais uma vez com o meio abiente (menos embalagens, nemos lixo e sobra mais para os outros (vamos lembrar de repartir o pão= mais senso de coletividade) → mais uma vez, menos culpas, menos ansiedade →O que gera tranquilidade (física e mental) para Meditação (oh o coco facilitando a prática do Yoga) → mais espaço interno e serenidade para encarar assuntos importantes → se deparar com a sua essência e ver que importante mesmo é estar aqui e agora (onde não existe problemas, lembra?!) → aí, com esse tempo livre (agora não mais ocupado com tanta desnecessariedade) de repente, se é da sua personalidade, se engajar em alguma causa e dar uma forcinha para quem de fato precisa → exercitando o amor ao próximo você ama ainda mais a si mesmo e valoriza ainda mais a sua existência e o mundo ao seu redor → mais felicidade pro seu lar → mais consciência e amor na hora de cozinhar → tranquilidade na hora de cagar… quando você se dá conta onde tudo isto começou, reforçando e confirmando a beleza do processo uma vez mais. É o seu coco servindo de inspiração para um mundo melhor.

Bom, como tudo nessa vida é uma questão de processos e todos começam pela básica e santa consciência, eu somo meus esforços para fazer a minha parte com dignidade. Graças à Índia e sua simplicidade, eu aprendo a comer com a mão, rezar antes, durante e depois das refeições, comer e beber só o que a Mãe Terra oferece como promessa de um coco melhor. Exercito as ferramentas que Deus me deu – minhas maozinhas – para encarar as últimas consequências do meu estilo de vida enquanto caminho para o descarte definitivo do papel higiênico. Quanto a usar o “buraco”; bem… ainda preciso melhorar o meu desempenho em alguns ásanas – para garantir um conforto básico durante o ato – e muita meditação para me liberar dos últimos vestígios de preconceito e/ou perder o medo do “monstro” que leva aquele pedacinho, agora tão querido, de mim.