A saúde intestinal pode
ser definida como a correta digestão, absorção e assimilação dos
alimentos, e a eliminação do que não é aproveitado pelo nosso organismo.
Mas isso é um trabalho que depende de muitos outros fatores...
Você pode até não identificar claramente que tem um problema... Mas se você tem preocupações com a sua saúde de qualquer tipo ou se está com sobrepeso ou obeso, seu sistema digestivo pode ser a raiz de diversos desconfortos.
“Se você tem algum tipo de sintoma digestivo, como distensão abdominal,
constipação ou diarreia, azia ou queimação, peso no estômago após se
alimentar, refluxo gástrico, gazes, dentre muitos outros sintomas
desagradáveis, você pode estar sofrendo de gastrite, doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), Síndrome do Intestino
Irritável, colite ou algum outro tipo de patologia do aparelho
digestório, inclusive câncer. E você não está sozinho. Milhares de
brasileiros têm problemas semelhantes”, afirma o gastroenterologista
Silvio Gabor (CRM-SP 47.042).
Há mais de 200 medicamentos (OTC) para distúrbios digestivos, muitos dos quais podem criar problemas digestivos
adicionais à venda livremente nas farmácias. Consultas em razão de
distúrbios intestinais estão entre os motivos mais comuns para os
agendamentos com clínicos gerais.
E essas nem são as piores notícias sobre o assunto. A maioria das
pessoas não reconhece ou sabe que os problemas digestivos causam
estragos em todo o corpo, levando a alergias, artrite, doenças
autoimunes, erupções cutâneas, acne, fadiga crônica, transtornos do
humor, demência, câncer e muitas outras doenças.
“Então, ter um intestino saudável significa mais do que simplesmente
estar livre de incômodos, como inchaço ou azia. É absolutamente
fundamental para a saúde. A saúde intestinal está relacionada a tudo o
que acontece no corpo. É por isso que, muitas vezes, começamos a tratar
um paciente com problemas de saúde crônicos, regularizando o
funcionamento do sistema digestório, desde a alimentação até a
evacuação”, observa o médico.
“A saúde do intestino significa que os nutrientes são absorvidos e que
as toxinas, os alérgenos e os micróbios patogênicos (causadores de
doença) são mantidos fora do organismo. Está diretamente ligada à saúde
do seu corpo inteiro. A saúde intestinal pode ser definida como a
correta digestão, absorção e assimilação dos alimentos, e a eliminação
do que não é aproveitado pelo nosso organismo. Mas isso é um trabalho
que depende de muitos outros fatores”, diz o gastroenterologista.
Primeiro, segundo Silvio Gabor, há bactérias no intestino que formam um
ecossistema diversificado e interdependente como uma floresta tropical.
Na verdade, existem cerca de 500 espécies e perto de 3 quilos de
bactérias no intestino que funcionam com se fossem uma fábrica química
enorme que ajuda a digerir e absorver a comida, regular os hormônios,
produzir vitaminas e outros compostos e excretar as toxinas, o que ajuda
a manter o intestino e o corpo saudáveis. Este ecossistema de bactérias
“amigáveis” deve estar em equilíbrio para que você esteja saudável.
Quando acontece o desequilíbrio, aparecem as infecções intestinais, em
seus vários graus de gravidade.
Organismos agressores, como bactérias “não amigáveis”, vírus, parasitas
e leveduras podem prejudicar seriamente a saúde intestinal. Então,
manter um equilíbrio saudável das bactérias no intestino é um dos
fatores para a boa saúde intestinal.
Em segundo lugar, há o sistema imunológico. O intestino é uma
verdadeira porta de entrada para vários organismos e toxinas. Essa
entrada livre não acontece, pois o corpo fica isolado e protegido do
ambiente tóxico do seu intestino por um forro, isto é, uma camada de
células capazes desse isolamento, conhecida como camada mucosa. Se este
revestimento for danificado ou algum agente agressor conseguir
atravessá-lo, então seu sistema imunológico entra em ação, destruindo
esse agressor e criando anticorpos para evitar novas tentativas desses
agentes.
“Se por algum motivo físico ou emocional, seu sistema imunológico se
tornar hiperativo, você pode se tornar alérgico a alimentos que você era
capaz de digerir. Em algumas pessoas, o sistema imunológico pode
começar a não reconhecer a camada mucosa como própria do corpo e criar
anticorpos contra ela, produzindo inflamações intestinais crônicas, como
retocolite ou Doença de Crohn”, explica o médico, que também é
professor assistente de Cirurgia Geral e do Trauma da Faculdade de
Medicina da Universidade de Santo Amaro (UNISA).
Em terceiro lugar, há o “segundo cérebro”, o sistema nervoso de seu
intestino. Você sabia que o intestino contém um número enorme de
neurotransmissores? Na verdade, o intestino tem um “cérebro próprio”.
Ele é chamado de sistema nervoso entérico, e é uma peça muito
sofisticada em sua biologia, ligada ao cérebro de maneiras complexas.
Mensagens são trocadas constantemente entre o “cérebro do intestino” e o
“cérebro da cabeça”.
“Alterações nesse mecanismo levam ao funcionamento inadequado do
intestino. Ele pode tanto funcionar aceleradamente (diarreias) com
lentamente (constipação intestinal). Quando isso ocorre, a saúde fica
abalada. São as doenças funcionais do intestino, das quais a mais
popularmente conhecida é a Síndrome do Intestino Irritável”, afirma Gabor.
Em quarto lugar, o intestino também tem que se livrar de todas as
toxinas produzidas como subprodutos do metabolismo, os catabólitos.
Essas substâncias são eliminadas com as fezes e não devem ser
absorvidas. Se este processo não acontece naturalmente, a pessoa ficará
constipado ou terá diarreia, e sua saúde será ameaçada. Casos assim
acontecem nas intoxicações alimentares.
“E por último, mas muito importante, o intestino deve ser capaz de
quebrar e absorver todos os alimentos que comemos. A trituração e
preparação para absorção é feita normalmente pelo estômago, e a absorção
é feita no intestino. Dessas capacidades de trituração e absorção de
carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas e minerais, para que eles
possam entrar em sua corrente sanguínea e nutrir o corpo e o cérebro,
dependem sua saúde física e mental. Casos de caquexia e desnutrição,
assim como sobrepeso e obesidade, podem ocorrer por falhas nesses
mecanismos”, observa Silvio Gabor.
O intestino necessita de um constante processo de gerenciamento e
atenção. Mesmo em um mundo perfeito é difícil manter tudo isso em
equilíbrio. Mas no mundo moderno, é muito mais difícil manter uma
excelente saúde digestiva. A maneira mais fácil e adequada de manter a
boa saúde intestinal é através de alimentação balanceada; observando o
tipo de alimento, a quantidade ingerida e o tempo entre as refeições.
Como saber se seu intestino está desequilibrado?
Para assegurar uma boa digestão, primeiro é preciso saber o que pode
desequilibrar o intestino. Confira a lista que o gastroenterologista
Silvio Gabor organizou:
• Dieta
pobre em fibras, com alto teor de açúcar e de alimentos processados,
pobre em nutrientes e com alto teor calórico faz com que as bactérias
“amigáveis” tenham seu trabalho dificultado e prejudiquem o ecossistema
delicado do intestino;
• O uso
excessivo de medicamentos que prejudicam a função digestiva ou
intestinal normal, como antiácidos, antiinflamatórios, antibióticos,
esteroides, hormônios e medicamentos antidepressivos, dentre muitos
outros medicamentos;
• A
intolerância ao glúten (doença celíaca) não detectada, ou graus
variáveis de alergias a alimentos, como laticínios (intolerância à
lactose), ovos ou milho, dentre outros;
• Infecções
crônicas ou desequilíbrios intestinais com crescimento de bactérias
patogênicas no intestino delgado, crescimento de fungos e parasitas;
• Toxinas como mercúrio, chumbo e mofo, que danificam a mucosa do intestino;
• Falta de função adequada da enzima digestiva, que pode resultar do uso de antiácidos, ou deficiência de zinco e proteínas;
• O estresse, que pode alterar o “sistema nervoso do intestino”.
“O que acontece, em qualquer uma das situações listadas anteriormente é
óbvio. Você vai ficar com a sua saúde intestinal abalada. Em resumo,
nosso combustível para que possamos caminhar, pensar, respirar, isto é,
para que possamos ‘funcionar’ corretamente e ter todas as nossas funções
fisiológicas normais, tem a ver com nossos hábitos alimentares”,
defende o médico.
Então, faz-se necessário a conscientização de quão importante é cuidar
da alimentação. São hábitos simples de serem adotados e que podem trazer
para todas as pessoas uma qualidade de vida melhor e uma longevidade
com saúde e disposição.
Para Gabor, seguir alguns hábitos irá prevenir e evitar situações de risco para a saúde:
• Beber água todos os dias. Cerca de 35ml por quilo de peso (por exemplo, cerca de 2500ml para uma pessoa de 75Kg);
• Comer regularmente frutas, folhas verdes e grãos;
• Ter uma alimentação equilibrada comendo carboidratos, proteínas, lipídios (gorduras), vitaminas e minerais;
• Caminhar cerca de meia hora todos os dias;
• Consultar um especialista na área que poderá orientá-lo a adotar hábitos saudáveis.