terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Síndromas da má absorção


As síndromas de má absorção são afecções que se desenvolvem porque os nutrientes dos alimentos no intestino delgado não são adequadamente absorvidos e não passam para a corrente sanguínea.
Normalmente, os alimentos são digeridos e os nutrientes são absorvidos pela corrente sanguínea, principalmente a partir do intestino delgado. A má absorção pode ocorrer quer por uma perturbação que interfere com a digestão dos alimentos, quer porque ela interfere directamente com a absorção dos nutrientes.
As perturbações que impedem uma adequada emulsão dos alimentos com o suco gástrico e com os enzimas digestivos podem interferir com a digestão. Tal emulsão inadequada pode acontecer numa pessoa a quem se extirpou cirurgicamente parte do estômago. Em algumas afecções, o corpo produz uma escassa quantidade ou tipos inadequados de enzimas ou de bílis, os quais são necessários para o fraccionamento dos alimentos. Estas afecções consistem em pancreatite, fibrose quística, obstrução das vias biliares e uma deficiência de lactase. A digestão também pode ser dificultada se houver um excesso de ácido no estômago ou se tiverem proliferado demasiadas bactérias não habituais no intestino.
As afecções que lesam o revestimento intestinal podem interferir com a absorção. As infecções, os fármacos, como a neomicina, o álcool, a doença celíaca e a doença de Crohn podem lesar o revestimento intestinal. A mucosa intestinalnormal é composta por pregas, pequenas projecções chamadas vilosidades e projecções ainda mais finas e pequenas chamadas microvilosidades. Estas últimas criam uma enorme superfície de absorção. Se esta área for reduzida, a absorção também diminuirá. Obviamente, a extirpação cirúrgica duma porção intestinal reduz a área de superfície. Também diminuem a absorção as afecções que impedem que as substâncias atravessem a parede intestinal e passem para a corrente sanguínea (como o bloqueio dos vasos linfáticos por um linfoma ou por uma deficiência do fluxo de sangue para o intestino).
Sintomas
As pessoas com má absorção normalmente perdem peso. Se as gorduras não forem adequadamente absorvidas, as fezes podem ter uma cor clara e ser moles, volumosas e fétidas (denominam-se fezes esteatorreicas). As fezes podem ficar agarradas à sanita ou até flutuar, dificultando que sejam arrastadas com a água. A esteatorreia é consequência de qualquer perturbação que interfira com a absorção das gorduras, como uma redução do fluxo biliar, a doença celíaca ou diarreia tropical.
A má absorção pode provocar deficiência de todos os nutrientes ou então, selectivamente, de algum deles, como proteínas, gorduras, vitaminas ou minerais. Os sintomas variam conforme o défice específico. Por exemplo, as pessoas com uma deficiência do enzima lactase podem sofrer de diarreias muito agudas, distensão abdominal e flatulência depois de beber leite.
Outros sintomas dependem da afecção causadora da má absorção. Por exemplo, a obstrução do canal biliar comum pode causar icterícia e uma deficiência do fornecimento de sangue ao intestino pode provocar dor abdominal depois das refeições.
Diagnóstico
Os médicos suspeitam duma má absorção quando uma pessoa perde peso, tem diarreia e mostra deficiências nutricionais apesar de comer adequadamente. A perda de peso por si só pode ter outras causas.
As análises de laboratório contribuem para confirmar o diagnóstico. Os testes que medem directamente a gordura nas amostras de matéria fecal recolhidas ao longo de 3 ou 4 dias são os mais fiáveis para diagnosticar uma má absorção de gorduras. A detecção dum excesso de gordura faz com que o diagnóstico seja muito provável. Outros testes podem detectar uma má absorção específica doutras substâncias, como a lactose ou a vitamina B12.
As amostras de fezes são examinadas à vista desarmada e ao microscópio. A presença de fragmentos de comida não digerida pode significar que a comida passa pelo intestino com demasiada rapidez. Tais fragmentos podem também indicar a presença duma passagem intestinal anatomicamente anormal, como uma ligação directa entre o estômago e o intestino grosso (fístula gastrocólica), que evita que os alimentos passem pelo intestino delgado. Num doente com icterícia, as fezes com um excesso de gordura podem indicar problemas no sistema biliar. Nas pessoas com icterícia e com um excesso de gordura nas fezes, o médico procura de modo específico um cancro do pâncreas ou das vias biliares. A visualização ao microscópio de gotas de gordura e de fibras de carne não digeridas indica uma disfunção do pâncreas. Ao microscópio procura-se também a presença de parasitas ou dos seus ovos (achado que sugere má absorção provocada por uma infecção por parasitas).
As radiografias simples ao abdómen não contribuem para o diagnóstico, mas às vezes indicam possíveis causas da má absorção. As radiografias que se fazem depois de o doente ingerir bário (Ver secção 9, capítulo 100podem evidenciar um padrão de distribuição anormal do bário no intestino delgado, característico duma má absorção, mas estas técnicas radiológicas não oferecem informação acerca da sua causa.
Pode ser necessário fazer uma biopsia (obtenção duma amostra de tecido para ser examinada) com o fim de detectar anomalias no intestino delgado. A biopsia é feita por meio dum endoscópio (um tubo flexível de visualização) (Ver secção 9, capítulo 100ou com um tubo delgado que leva acoplado um pequeno instrumento cortante na sua extremidade. A amostra é examinada ao microscópio e também pode ser analisada a sua actividade enzimática.
Muitas vezes fazem-se provas de função pancreática porque a disfunção deste órgão é uma causa habitual de má absorção. Numa das provas, a pessoa submete-se a uma dieta especial. Noutra, leva uma injecção da hormona secretina. Em ambas as provas são recolhidos em seguida, com uma sonda, os sucos intestinais que contêm secreções pancreáticas para proceder à sua medição.