sábado, 25 de maio de 2013

Banheiros Químicos



Todos os anos, milhares de pessoas saem nas ruas para pular em blocos carnavalescos durante horas a fio, enquanto se enchem de uma substância altamente diurética chamada cerveja. Isso tudo acaba apresentando um problema: como essas milhares de pessoas farão para ir ao banheiro? Uma solução é mijar na rua, o que é meio de mau gosto para todos e pouco prático para as mulheres, que não possuem pinto. A outra é um tanto infeliz, mas ainda assim bastante popular: os banheiros químicos.
Uma das coisas mais nojentas e asquerosas que existem no mundo é o banheiro químico. O banheiro químico é nada mais nada menos do que uma vala comum de cocô e xixi, mal esterilizada com substâncias altamente tóxicas e fedorentas, enfurnada numa cabine de plástico que impede qualquer tipo de reciclagem de ar, o que faz aquele futum curtir por um período indeterminado, transformando-se num gás característico e deletério.
Além do terror escatológico depositado dentro da privada, muita gente faz questão de errar a mira e mijar pra tudo quanto é lado do banheiro químico. Com isso, uma poça de urina e terra acaba se formando no chão, molhando os calçados de seus usuários com o néctar da podridão excrementária. Ir num banheiro químico de chinelo, nesse sentido, é tão perigoso quando andar na Lua de camiseta e bermuda ou desmontar um aparelho de raio-X completamente nu.
Teoricamente, o banheiro químico possui substâncias que não só esterilizam como desodorizam o ambiente. Na prática, porém, eles são sujos e fedidos. Antigamente as substâncias comumente usada nesses banheiros eram formaldeídos, mas eles irritavam os pulmões e olhos dos usuários e acabaram substituídos por glutaraldeídos, que também irritam pulmões e olhos, só que um pouco menos. Um amigo meu, que trabalhou numa indústria e locadora de banheiro químico e que hoje em dia subiu na vida escrevendo críticas cinematográficas incríveis, me disse certa vez a triste verdade: os donos desses banheiros usam muito menos substância do que deveriam, para economizar, e é comum eles jogarem os dejetos clandestinamente em córregos e riachos. Ou seja, nem pra sanear nosso cocô ele serve. Aliás, nesse quesito, fazer cocô no banheiro químico é pior do que fazer cocô no mato, porque pelo menos o do mato não contém formaldeídos nem glutaraldeídos.
Aliás, falando em cocô, está aí uma coisa que eu felizmente nunca tive que fazer: cagar num banheiro químico. Imagino que deva ser uma experiência horrorosa. Não conheço ninguém que passou por ela, mas sei que isso é bastante comum, pela evidência ofaltiva que certos cagões deixam nos banheiros depois de usá-los. Fazer cocô num banheiro químico é uma imagem muito tétrica, alguém inclusive podia ter dado a dica pro Francis Bacon fazer um quadro sobre isso enquanto ele estava vivo. Ia ser animal. Não, mentira, ia ser só nojento mesmo.
Quando o ser humano inventou o banheiro, ele tinha duas intenções em mente: a primeira era garantir o mínimo de privacidade, e a segunda era tornar seus afazeres fisiológicos mais higiênicos e agradáveis. Com a privada, mal nos relacionamos com nossos dejetos: eles somem da nossa vista pra sempre com uma única descarga (ou duas se você fez um cocozão). Depois disso, é só se limpar e pronto. Muito prático.
O banheiro químico, por sua vez, é uma invenção aleijada pois, apesar de prover a privacidade, ele não é nem um pouco higiênico. Estando nós em 2011, era de se esperar que os banheiros químicos fossem substituídos por uma invenção um pouco menos arcaica. Vamos torcer para que um gênio invente um aparato menos idiota num futuro próximo.