Aquele cheiro fétido no sapato, no sanitário. Merda, quando algo dá
errado. Bosta, quando estamos chateados. Aquilo que não nos serve. O
resto, o sujo. Como temos dificuldades para lidar em nós com nossos
excrementos!
Aprendemos a ser limpas, não fazer coco em qualquer lugar. Segurar
para defecar onde nos sentimos seguras. Perfumar o ambiente para que
ninguém saiba de nossas fetidezas. Seguramos nossas sombras a ponto de
não conseguir defecar por dias.
Uma vez vi numa dessas revistas femininas, como despistar seu
namorado em uma viagem quando você fizer coco! Quanta opressão,
principalmente para nós mulheres. Conheço muitas mulheres com prisão de
ventre.
Enquanto meninos peidam e riem com o fedor, meninas parecem desejar nunca soltar puns. Fazer coco então…
Belas mulheres vazias parecem peidar com cheiro de perfume e defecar
uma rosa. Não fazem coco no chão, no mato. Usam até lencinho perfumados
O bioma mais rico em biodiversidade é o mangue. Obscuro, com raízes
que voam e fértil pela presença de excrementos. A vida nasce nas fezes. O
intestino que solta antes do parto. O cocô que sai antes de se permitir
dar a luz.
Uma sensação do parto é uma pressão no ânus. Uma vontade insuportável
de fazer cocô. Mas se toda a vida seguramos a vontade, como deixar
sair?
Enquanto não nos conectarmos com nossos excrementos sem vergonha, não
poderemos experimentar a verdadeira luz. Saber que aquilo, também somos
nós. A sombra e a luz. O resto do que nos nutriu, que aduba a terra que
nos serviu.
Defecar é uma forma de prazer. Um alivio na passagem daquele formato
fálico que produzimos. Prazer em se abrir para devolver as sombras.
Fétidas e ricas, contaminadas, renegadas, escondidas.
Seremos mais saudáveis quando pudermos compartilhar, juntos, sem
pudor, o coco nosso de cada dia. Comemorando com os pequenos em processo
de desfralde o coco lançado no vaso. Ai lidar com naturalidade com
nossas fezes e as deles, transformamos o ato do coco em um ato
fisiológico.
E você, qual sua relação com o coco? E de seus filhos?